A história da Lasanha


Comecinho do século 21. Grã-Bretanha e Itália quase entram numa crise diplomática.

O estopim? A ilha pouco referendada por seus atributos gastronômicos reivindicou a invenção da lasanha. A prova, alegaram os pesquisadores britânicos, era a obra The Form of Cury: o livro de receitas escrito por cozinheiros a serviço do rei Ricardo II, em 1390, menciona uma tal de loseyns, que se pronuncia “lasan”, e que alterna camadas de uma massa de cereal não identificado, “bom” caldo, especiarias como canela e açafrão e queijo ralado. Um prato montado como a lasanha, com nome parecido, mas nada de tomate e carne nenhuma. Prego! Aí se agarraram os italianos para reafirmar algo que ninguém havia contestado até então: a lasanha é um prato italianíssimo.

Os ingleses, no entanto, têm certa razão em questionar a paternidade do prato, porque de fato a origem da lasanha é incerta: na Antiguidade, o bolo grego, fino, conhecido como laganon, virou lagamum em Roma (ou lagana, no plural). Desses tempos remotos, afirmam os historiadores, é o prato que mais se assemelha à lasanha moderna. Resquícios dessa evolução foram identificados por Marco Polo em suas viagens pelo Oriente: o explorador chamou de lasagne um prato das terras chinesas, montado em camadas de massa produzida com farinha de fruta-do-conde – prova de que o veneziano deveria estar familiarizado com o conceito de empilhar folhas de massa e umedecê-las com molho saboroso.

Reconhecida pelo mundo, a tradição pegou com força na Itália. Embora não seja popular no país todo, a montagem de pasta fina que sai fumegante e gratinada do forno embala menus de osterias e almoços dominicais em regiões como a Emilia-Romagna, cuja capital é Bolonha, e, quiçá pela proximidade, na vizinha Toscana. Tradicionalmente, na Itália, lasanha significa folhas de massa fresca à base de farinha de trigo e ovos, intercaladas com molho bechamel à base de leite, farinha e manteiga), ragù (um autêntico, que mistura carne bovina e de porco) e lascas de queijo parmiggiano-reggiano.

Como todo clássico da gastronomia, a lasanha ganha versões incontáveis. Pode levar vegetais, carne de aves desfiada, cogumelos, presunto, bacalhau, salmão e, hoje, até pode não levar carne e nem tomate – o que aflige os italianos mais puristas.

Pier Paolo Picchi, chef do restaurante Picchi, cresceu com a versão da nonna toscana, da cidade de Lucca, “sem presunto e queijo em fatias, apenas um molho bechamel com um pouco de noz-moscada, um bolonhesa bem típico, com carne de porco, de boi e uma linguiça, sempre incrementado com zimbro e leite”. A saborosa receita familiar é servida em seu restaurante nos Jardins, em São Paulo, por R$ 69 e, vez por outra, recebe a companhia de uma versão feita com berinjela.

 

 

Fonte: revistacasaejardim.globo.com